As pessoas adoram relatórios. A função destes é resumir uma história, com final feliz. Só não se sabe sabe se foi para o bem o para o mal, e essa dúvida fica exposta quando se trata de gerenciamento de energia.
Quando surgiu o conceito
Sou péssimo com datas, porém me recordo de que na década de 90 já via logo com “power” ou “energy” escrito, o que dava a entender que aquilo gastava menos energia. Já havia uma consciência coletiva sobre como utilizar computadores e diminuir o consumo. A proteção de tela que você conhece não colabora com a baixa no consumo, trabalha ao contrário, pois há processamento. Embora sua função fosse prevenir o desgaste do fósforo dos monitores de tubo, na verdade só servia para divertir. Veteranos sabem que o Johnny Castaway não era um náufrago, mas um vilão da conta de energia…
Pois bem, a economia real passou a ser praticada quando implementou-se instruções no hardware, o sistema operacional passou a trabalhar com essas instruções. Monitor e computador passaram a entrar em modo de espera, ou stand by, recurso presente em quase tudo que consome energia atualmente.
Os sistemas operacionais foram além com o modo de hibernação, efetivamente desligando o computador.
Servidores entram em modo de espera?
Se configurar, sim. Há um conceito por trás dos datacenters sobre demanda. É possível até ter servidores extras para atender a demanda temporária. O servidor não precisa ficar ligado o tempo todo, basta que o software gerenciador do cluster tenha controle sobre o equipamento extra, ligando, desligando ou colocando em espera. Isso não desobriga os fabricantes de utilizarem componentes com melhor eficiência energética, e aqui fazem parte todos os equipamentos de um datacenter.
Não vejo na TI outra demonstração de consumo de energia consciente além do datacenter. Nós sentimos isso através do calor gerado. Mais calor, mais energia consumida, e se não for controlado, pode resultar em prejuízo.
Em um DC encontramos vários racks, um do lado do outro, tudo junto e misturado. Por mais eficiente que seja o hardware, o calor gerado é grande, logo precisa de uma estrutura paralela apenas ara refrigeração. Não se trata apenas de ar condicionado para baixar a temperatura, há uma engenharia por trás do sistema, que trabalha fluxo de ar e água, posicionamento dos equipamentos, torres de resfriamento, energia solar e eólica quando possível, e tudo com redundância e monitoramento inteligente.
Isso encarece um DC? Para uma única empresa talvez, mas quando compartilhado não. Além disso, em um DC moderno a refrigeração atua apenas na área física que gera calor, logo os equipamentos elétricos que fazem parte da refrigeração também fazem uso responsável de energia.
Desperdícios
Deixar de atualizar equipamentos e investir vai contra a idéia do consumo inteligente de energia. Um investimento precisa ter o consumo de energia como fator de decisão, obrigatoriamente. Resultados pequenos aparecem imediatamente e a longo prazo nem se discute.
Com o boom do trabalho remoto que ocorreu em 2019, passou-se a desperdiçar energia novamente. TODAS as empresas, que não tinham VDI ativo, tiveram que deixar os computadores comuns eternamente ligados, pois era necessário que o funcionário conectasse por vpn a qualquer momento. As pessoas trabalhavam suas oito horas, mais 2 horas de almoço, e o computador ficava à toa as outras 14 horas.
O consumo de energia está entre os custos operacionais mais significativos em ambientes de TI, representando uma proporção considerável do orçamento disponível. A necessidade de gerenciar de maneira eficaz esse recurso não é apenas uma estratégia financeira, mas também uma abordagem crítica para minimizar o impacto ambiental das operações tecnológicas. O aumento na demanda por serviços digitais e a crescente utilização de dispositivos interconectados tornam a economia de energia uma prioridade essencial. A implementação de medidas de eficiência energética pode levar a economias substanciais, permitindo que as empresas redirecionem seus recursos para a inovação e o crescimento.
Como medimos o consumo?
Não se descobre o consumo olhando apenas para a conta de energia, tampouco com relatórios gerados por softwares milagrosos. O mundo da infra e da configuração me permitiram ler nas entrelinhas o que era argumentado sempre que o assunto vinha à tona. Por mais interessante que qualquer relatório pareça, não me convence.
Energia é estado da física, que deve ser medido por sensores físicos dedicados. O relógio de medição da sua casa faz esse trabalho, posicionado entre o poste e quadro de distribuição. Em computadores, um medidor deve estar entre o ponto de origem e a fonte do equipamento, depois gera dúvidas.
Mesmo que nas placas existam sensores, o que é mostrado precisa ser calculado em tempo real e considerando a variação. E se for convertido em custo, também precisa considerar a variação da tarifa em horários e épocas sazonais.
Pegou o código? Sim, aquele gráfico bonito no PowerPoint pode ser uma furada.
Um exemplo real de quando fui apresentado a esse mundo. Minha tarefa era validar o que estava sendo vendido. Com um wattímetro em mãos, pude ver o consumo real de um desktop, um monitor LCD e um laptop. Vou começar pelo susto.
Quando você compra uma fonte daquelas de 500 watts para o seu computador gamer, você está ciente de que o consumo poderá chegar a isso, ou cinco daquelas lâmpadas de filamento de 100w que você trocou por leds de 9w para economizar energia. Na ocasião o computador, um P4 com monitor, chegava a 150w. Em stand by algo entre 10 e 20. Sim, havia consumo.
Repeti com um laptop. Não me recordo do consumo de operação (que está limitado à fonte) mas em espera era de 1-2w.
Já os relatórios não condiziam com a realidade pois trabalhavam com estimativa. Há diversos produtos no mercado que dizem mostrar em gráficos o consumo por equipamento. Tenha em mente que todos vão calcular estimativa, e por mais que a medição via software seja parecida com uma medição real e física, nao será real. Obviamente meu relatório impediu a implantação do software milagroso e as consideraçoes que coloquei foram consideras. Se ainda estiver pensando em adquirir um produto assim, pense se não vale a pena gerenciar corretamente a energia dos equipamentos, desligando o que não está em uso, e mudando hábitos.
É perfeitamente possível aplicar na empresa lições similares sobre economia de energia aprendidas na infância, como desligar a lâmpada ao sair do cômodo e não dormir com a TV ligada. Simples assim.
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